domingo, 20 de fevereiro de 2022

Conto


O Pagamento na mesma moeda

 

            Em uma dessas tardes, na rua da casa onde moro, um ocorrido chocou a vizinhança e muito mais a mim que presenciava tudo escandalizada.

            Nessa tarde que deveria ser uma tarde comum como qualquer outra, uma grande confusão instalou-se à porta da creche bem em frente minha casa.

           A creche que há em minha vizinhança é voltada para educação básica de crianças de seis meses a três anos de idade; e todos dias, após chegar do trabalho, como de costume, saio à janela para observar o vai e vem das mães e dos pais que vão buscar seus filhos na escola.

             É uma correria para lá e para cá, mães que se atrasam, pais que perdem a hora, vizinhas que buscam quatro crianças de uma só vez, e elas vão desesperadas pela rua ajuntando as crianças que correm em disparada para chegarem em casa.

             E as mães, e vós, e tias e vizinhas gritam e “enervozam-se” com as crianças que não obedecem e correm, e choram, e fazem manha, e birra e jogam-se no chão, só para chamar a atenção dos responsáveis que trabalham, e correm, e se atrasam, e perdem a hora, e dormem, e se esquecem das crianças. Tudo que os pequeninos fazem parece ser a forma para conseguirem um único olhar, mesmo que severo, mas um olhar que falta-lhes durante a euforia dos dias que se passam.

              E assim tudo transcorria como de costume; os responsáveis xingavam e iam puxando pelas mãos as crianças que recusavam-se a atender aquelas ordens. E os adultos iam arrastando os pequenos, e gritando e xingando, e dizendo como sempre: fulano não faça isso!; Ande direito!; Olha que feio!; Seus coleguinhas estão bonitinhos, só você tá fazendo feio.

             E assim ia mais um arsenal de palavras e frases daqueles pais, avós, tios e vizinhos desperdiçadas ao vento: Pare de chorar!; Anda menino, tô com pressa!; Rápido!; Olha para frente!; Vamos encontrar o papai, você não quer o papai?! Tantas ações e verbos no imperativo, talvez, por isso, as crianças fossem tão “hiperativas”.

             Mas nada de olhares, ou conversas, ou elogios, ou abraços, ou carinhos, só o mesmo de sempre.

             Todavia, naquela tarde um menininho que aparentava seus três anos de idade saiu da creche chorando mais que um bebê de colo. E então, sua mãe espantou-se e logo perguntou ao menino o que havia ocorrido. E o menino entre soluços dizia a mãe que mais uma vez o coleguinha de sala o havia mordido.

             A mãe inconformada com a situação, pois já havia ido três vezes à escola e reclamado, dirige-se até a outra mãe do menino que havia mordido seu filho e de repente; “Nhack!” Dá-lhe uma grande dentada no ombro.

              A mulher se assusta e vira para trás sem nada entender, e com os olhos indagadores, olha para mordida que levou e para aquela mãe que parecia satisfeita do que fez

              Ainda irritada a mãe que dera a mordida falou para sua vítima:

_ Isso é para descontar o que o seu filho faz com o meu, agora está pago na mesma moeda.

              A mulher que foi mordida dissimulando e fingindo nada entender diz:

_ Como assim?

              E a outra responde:

_ É isso mesmo! Seu filho vive mordendo o meu, porque você não dá educação para ele. Se você desse nada disso teria ocorrido; mas já que você não dá educação para ele eu estou te ensinando a dar.

               E estava armada a confusão. Pronto, tudo feito!

               Elas discutiam e os meninos choravam. E os pais, e avós, e tios e vizinhos nada entendiam, e se assustavam, e riam, e nada faziam, e olhavam, e riam mais ainda, e gargalhavam, e dobravam-se, e engasgavam-se de tanto rirem.

              Um fato que de primeira mão tinha seu fundo cômico, mas, no entanto, retratava a falta de civilidade das pessoas umas com as outras

              E tudo acabou na delegacia.

              E eu estagnada continuei à janela, não tinha pernas para sair do lugar; confesso que no início também ri e muito, mas no fim, penalizei-me com a situação e pude ver o quanto ainda é necessário que o ser humano evolua e aprenda a respeitar o próximo dentro das leis da ética e da moral.

 

 Por Ana Beatriz Nunes Dos Santos..

 

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